Teorema do Núcleo e da Imagem (prova). Determinantes, formas de volume e
-formas
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Teorema do Núcleo e da Imagem
Recapitularemos em breve o contexto da aula 9. Sejam espaços vetoriais (reais), e uma transformação linear (t.l.) de em , ou seja, dados vetores em e um escalar quaisquer, temos que
- ;
- ,
(lembrar que escrevemos se é uma t.l.) de modo que se é uma combinação linear (c.l.) de vetores com coeficientes , , então
(ver o início da aula 3 para a definição do símbolo de somatória num espaço vetorial) Sendo uma aplicação de em , podemos definir, dados , , a imagem de por
e a imagem inversa de por
Em particular, se , escrevemos .
Cabe aqui uma observação sobre a notação empregada: notar que não precisa ser invertível para definirmos imagens inversas, pois e, em particular, denotam subconjuntos de , não vetores. Assim, pode ser vazio (nesse caso, não pode ser sobrejetora) ou ter mais de um vetor (nesse caso, não pode ser injetora). Somente no caso em que é bijetora (i.e. iinvertível) é que é unitário para todo e portanto pode ser identificado com seu único elemento, definindo assim a inversa de .
Segue dessas definições que
— em particular, a imagem
de é subespaço vetorial de – e que o núcleo
de é subespaço vetorial de : se e quaisquer, então
e
portanto .
Por definição, é sobrejetora se e somente se
Além disso, é injetora se e somente se
De fato, se e satisfazem , temos que e portanto . Conversamente, temos que se então para todo . Logo, se é injetora, nesse caso . A sobrejetividade e a injetividade de uma t.l. podem ser expressas em termos de sua ação sobre (certos) subconjuntos l.i. :
- é sobrejetora se e somente se, dada uma base qualquer de , temos que . (a primeira identidade segue do cálculo acima, e a segunda identidade é a definição da sobrejetividade de )
- é injetora se e somente se, dado um subconjunto l.i. qualquer, temos que \emph{também é l.i.}. (suponha que é l.i. para todo l.i., então se e portanto é injetora. Conversamente, se é injetora e são l.i., sejam tais que . Então e portanto , logo são l.i.)
Em particular, é bijetora se e somente se é base de para toda base de . Em outras palavras, o exemplo típico de t.l.’s bijetoras ocorre ao efetuarmos uma mudança de base. Se tem dimensão finita, ambos os fatos acima são casos particulares de um resultado geral, conhecido como Teorema do Núcleo e da Imagem. Dados espaços vetoriais (reais) e , o posto (“rank” em inglês) de é dado por
e a nulidade de por
Obviamente pois se é base de e é subespaço vetorial de .
Teorema do Núcleo e da Imagem. Sejam espaços vetoriais (reais), , e . Então
Prova. Definamos , . Sejam uma base de e uma base de , de modo que para algum , . Obviamente para todo ; mostraremos agora que definindo , temos que é base de . Primeiramente, notar que é l.i.: dados tais que , temos que
e portanto pois é l.i.. Logo, e portanto pois é l.i.. Falta apenas concluir que — para tal, notar que dado , podemos escrever
para uma (única) escolha de . Defina
Segue que e portanto , pois
logo podemos escrever para uma (única) escolha de e portanto , como desejado.
O Teorema do Núcleo e da Imagem possui várias consequências. No que se segue, são espaços vetoriais (reais) com .
- é sobrejetora se e somente se . Em particular, não pode ser sobrejetora se .
- é injetora se e somente se .
- é bijetora se e somente se .
- Se , então ou , e o último caso ocorre se e somente se .
O fato (iv) acima fornece uma maneira alternativa de obter o Lema de Riesz:
Lema de Riesz. Seja um espaço vetorial (real), . Dado , existe um único vetor tal que para todo – a saber,
onde é um vetor ortogonal a (notar que, pelo Teorema do Núcleo e da Imagem, é único a menos de um múltiplo escalar).
Prova. Comecemos com a questão da unicidade. Se são tais que para todo , então
para todo . Em particular, tomando obtemos e portanto . Passando agora à questão da existência, se obviamente não há outra escolha para a não ser . Se , seja tal que . Podemos então construir uma base o.n. de e portanto a projeção ortogonal sobre . De maneira similar à adotada na ortonormalização de Gram-Schmidt, defina
de modo que é base o.n. de . Mostraremos agora que se tem as propriedades listadas no enunciado do Lema de Riesz, então
De fato, dado qualquer, podemos escrever
e portanto
como desejado.
Notar que e para , quaisquer. Vamos agora estabelecer a relação da fórmula obtida no Lema de Riesz com a fórmula que já tínhamos obtido anteriormente: se e é uma base o.n. de , então
Em particular, é ortogonal a e
logo se e somente se .
Aproveitamos o momento para introduzir uma notação alternativa para , que será a notação padrão daqui em diante. Dados , , definimos , como
Fica claro que e para , quaisquer. Além disso, as aplicações e são t.l.’s (exercício: verifique!), portanto denotar-las-emos por isomorfismos musicais.
Próxima aula
Na próxima aula começaremos a falar de determinantes, formas de volume e -formas, partindo da motivação dada pela área de paralelogramos.
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