Revisão de Álgebra Linear (1) – Operações vetoriais de , (sub)espaços vetoriais
Para podermos lidar com campos vetoriais, é necessário poder manipulá-los algebricamente. Para tal, precisamos coletar as ferramentas para essa finalidade, fornecidas pela Álgebra Linear.
Operações vetoriais de , axiomas de espaço vetorial
Lembremos que pode ser entendido como o conjunto das listas ordenadas de números reais :
Por “ordenadas” entende-se que trocando duas componentes de de lugar muda a lista, a menos que tais componentes sejam iguais. Os elementos de são denominados vetores em ou vetores -dimensionais.
é munido de duas operações vetoriais:
- A soma (vetorial) de dois vetores , , dada por
- A multiplicação (pelo) escalar do vetor , dada por
As operações vetoriais de satisfazem a seguinte lista de propriedades, chamadas axiomas de espaço vetorial real ou sobre (em referência ao corpo de escalares , que é o conjunto dos números pelos quais podemos multiplicar vetores, chamados escalares. Não consideraremos outros corpos de escalares além de ). No que se segue, são vetores quaisquer e são escalares quaisquer quando não especificados.
- (comutatividade da soma);
- (associatividade da soma);
- Existe um vetor em tal que para todo vetor em (existência de elemento neutro para a soma). A saber,
- Dado um vetor em , existe um vetor em tal que (existência de inverso para a soma). A saber,
- (associatividade da multiplicação escalar);
- (distributividade da multiplicação escalar com respeito à soma vetorial);
- (distributividade da multiplicação escalar com respeito à soma escalar);
- (elemento neutro para a multiplicação escalar).
Exercício 1. Verifique os axiomas (a)-(h) para as operações vetoriais de .
Exercício 2. Verifique que é o único elemento neutro para a soma vetorial de e que, para todo vetor , é o único inverso de para a soma vetorial de .
Alternativamente, os Exercícios 1 e 2 serão resolvidos num contexto mais geral mais adiante.
(Sub)espaços vetoriais
Definição 1. Um conjunto munido de operações vetoriais de soma (vetorial) e multiplicação escalar (, ) satisfazendo os axiomas (a)–(h) enumerados acima é chamado de espaço vetorial (real ou sobre (o corpo de escalares) ). Neste caso, os elementos de são chamados de vetores em .
Propriedades das operações vetoriais que dependem apenas dos axiomas de espaço vetorial (identidades que seguem de um axioma específico dentre os axiomas (a)-(h) terão o axioma usado indicado sobre o sinal de igualdade quando necessário) valem para todos os espaços vetoriais, não apenas ! Em particular, tais propriedades não dependem das características específicas de e sua operações vetoriais. Por exemplo:
- Só existe um elemento neutro – portanto, justificadamente denotado por – para a soma vetorial de . (de fato, dados vetores tais que
- Dado , só existe um inverso de para a soma vetorial de – portanto, justificadamente denotado por (notação: ). Em particular, . (de fato, dado sejam vetores tais que . Somando-se à primeira e última fórmulas, segue que
- . (de fato,
- . (de fato,
- . Em particular, . (de fato,
- Se , então ou . Em particular, se , é o único escalar que satisfaz o axioma (h). (de fato, vimos acima que . Se, por outro lado, , temos que
Exercício 3. Prove a partir dos axiomas (a)-(h) e/ou de suas consequências provadas acima as seguintes propriedades, válidas para quaisquer vetores e quaisquer escalares
- Se e , então ;
- Se e , então ;
- ;
- . Mais em geral, . (para a definição do símbolo de somatória num espaço vetorial, ver o início da aula 3)
Dentre os exemplos de espaços vetoriais, podemos citar:
- Obviamente, . Em particular, é espaço vetorial sobre si mesmo.
- Dado , seja o espaço das funções de em :
- Soma (vetorial):
- Multiplicação escalar:
- ;
- ;
- (i.e. para todo ) satisfaz para todo ;
- Dado , satisfaz para todo ;
- ;
- ;
- ;
- .
- Soma (vetorial):
- Mais em geral, se e é um espaço vetorial (real), seja o espaço das funções em a valores em :
Definimos em tal as operações vetoriais pontuais (a seguir, , , são quaisquer)
- Soma (vetorial):
- Multiplicação escalar:
- Soma (vetorial):
Mais exemplos podem ser obtidos a partir dos dados acima a partir da seguinte
Definição 2. Seja um espaço vetorial, e não-vazio. Dizemos que é subespaço vetorial de se, dados e quaisquer, então
- ;
- .
Se , dizemos que é subespaço vetorial próprio de .
Mostraremos que todo subespaço vetorial é um espaço vetorial se munido das operações vetoriais herdadas de (o que sempre assumiremos ser o caso). De fato, os axiomas (a), (b) e (e)-(h) são claramente satisfeitos em . O que nos resta fazer para obter a validade dos axiomas (c) e (d) em é provar, respectivamente, que:
- . (se , segue de (ii) que )
- Se , então . (se , segue de (ii) que )
A vantagem de lidar com subespaços vetoriais é que verificar se é subespaço vetorial de é bem mais simples do que verificar os axiomas (a)-(h) em . Em particular, ao verificarmos se , é conveniente verificar se . Se não for o caso, sabemos com certeza que não é subespaço vetorial, mesmo se não for vazio.
(Contra)exemplos de subespaços vetoriais:
- qualquer, : claramente e vimos que para todo , logo é subespaço vetorial de (V) – o chamado subespaço vetorial trivial de .
- , : claramente . Além disso, temos que se e então
- , , onde \eqref{ch1e2} é o sistema linear homogêneo
(1)
Claramente . Além disso, se pertencem a e , então
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